O Brasil seria Outro. P. A. Lacaz
Agliberto Xavier
INFORMAÇÃO PRELIMINAR
Com a recente reforma do ensino fui
convidado pela Diretoria do Externato do Colégio Pedro II a refazer o programa
para o curso de Filosofia daquele estabelecimento, de modo que pudesse também
servir aos congêneres de todo o país. Ponderei ao Diretor e aos professores que
mais se interessavam pelo caso que, tal qual estava, o programa satisfazia
plenamente o fim a que se destina. Seu valor é assas notado pela atração de pessoas
conspícuas, mas estranhas á casa, que com assiduidade frequentam minhas aulas,
honrando desse modo não só o meu curso como o próprio estabelecimento. Sua eficácia
patenteia-se por alusões em casos importantes e sobre tudo por trabalhos que já
se vão fazendo sob sua inspiração e seguindo-lhe a diretriz, como declaram os
próprios autores.
A increpação de que é sectarista,
observei que o assunto é realmente tratado no terreno positivo e o Positivismo,
propriamente dito, há notável diferença. Por semelhante critério, em vez de um programa
de Química positiva, teríamos que adotar a Alquimia, caso fosse Lavoisier o
fundador do Positivismo. A consideração que poucos professores da matéria
poderiam executar o programa e menor inda o aumento de alunos que o assimilaram,
lembrei que cada coisa deve ser ensinada há seu tempo e por quem possui real
competência. Desvirtuar uma matéria para que possa ela ser lecionada por todo o
mundo e a quem quer que seja, é suprimir o problema e não resolve-lo.
Desnaturar o cálculo infinitesimal, para que ele seja ensinado por professores
que mal sabem matemática elementar e a meninos do primeiro ano do curso ginasial,
não seria organizar o ensino matemático, mas, pelo contrário, desorganiza-lo.
Desconhecido. Retirado do original.
Fazendo-se, porém, insistente a
exigência, a despeito de todas as razões, e tendo que se tornar finalmente esse
programa o do meu próprio curso, resolvi fazer pequena alteração no que já
seguia há alguns anos, e apresentá-lo á Diretora. Nomeou-se, para dar parecer,
uma comissão composta dos Srs.: Honório Silvestre, Adrien Delpech e Othello Reis. Sem
discutir ponto algum desse programa, a referida Comissão taxou-o solenemente de
sectarista, portanto inaceitável,
e apresentou logo um substituto com esta declaração:
“Parece á Comissão que seria mais
natural adotássemos um programa semelhante, em suas linhas gerais, aos
estrangeiros. Os franceses, por exemplo, para cuja explicação há numerosos e
bons compêndios, como o Worms, o Rabier, o Rey, poderiam ser adotados. Baseado
nestes, organizou ela um plano, bem resumido, que oferece á ilustre Congregação.”
Em sessão de congregação, a 24 de
Setembro, o relator da Comissão leu o parecer a fim de ser logo votado, sem que
fosse pela douta corporação conhecido o programa que eu apresentará, isto é, as
modificações feitas no antigo. Protestei contra semelhante processo
inquisitorial, requeri vista desse documento e, em sessão de 10 de Outubro, li
o discurso que abaixo publico e em que analiso os principais pontos do programa
da Comissão e confronto com o meu.
Escrevendo o meu discurso, visava
transmiti-lo na integra á sociedade brasileira, para justificar-me em tão grave
conjuntura e produzir ao mesmo passo um documento histórico da evolução mental
do nosso meio. Com efeito, numa época de deserções dos que passam por ter
opinião, era mister que eu provasse haver sustentado a minha e ter caminhado
nesse terreno até aonde me era licito chegar. E a honrada Comissão podia
escrever como fez:
“Este programa poderia ser aceito a fim
de se usar até que o douto catedrático, renunciando ao caráter estreitamente
sectário de seu ensino, organize novo plano, eclético, que se adapte
perfeitamente ás necessidades do ensino.”
Mas eu espero que, se não falhar a vida,
nem mesmo a como em outras, houve brasileiros de convicções bem fundadas e que delas
não desertaram. Creio que a digníssima Comissão, em seu nobre sentimento de
justiça, lamentará então a suspeita que formulou de seu velho colega.
Também será confortadora a provede
que em tão ominosos tempos houve quem sustentasse idéias contra as dos mais
acatados representantes do ensino dos paises estrangeiros, e o que mais é,
demonstrasse a realidade dessas idéias sem ligar a mínima atenção, nem a
aureola dos contrariados, nem ao numero deles. Mais confortante ainda será
saber-se que, de toda a parte deste vasto país, onde há quem pense ativamente
sobre tais idéias, irrompem sinceras demonstrações de aplauso. A situação
actual não é de uma sociedade que se dissolve, mas que oscilante se transforma.
Felizes os que compreendem essa transformação!
Terminado o meu discurso, falaram os
três membros da Comissão e outros da Congregação. Seria de esperar que, á vista
da minha crítica ao programa substitutivo e das repetidas interrogações que fiz
a propósito dos principais pontos do meu programa, os oradores respondessem
mostrando algum erro ou provando o sectarismo de qualquer deles. Nada disso. Os
oradores limitaram-se a fazer considerações sobre assunto que não estava em discussão
__ a obra de A. Comte __ repetindo
críticas banais e já muito conhecidas.
Concluindo seu parecer, a honrada
Comissão prepôs: “Tendo, porém, em consideração o excepcional valor do programa
apresentado pelo Sr. Agliberto Xavier, toma ela a liberdade de sugerir que se
publique, anexo aos programas oficiais como o plano de conferencias filosóficas,
segundo a orientação de Comte, conferencias que o mesmo professor, nosso
eminente colega, poderia continuar a realizar publicamente, independente do
curso oficial, para grande gáudio dos que procuram na filosofia positiva desalterar a sede de conhecimentos, e
para maior brilho da cultura nacional.”
Submetido
á votação o parecer, votaram contra a
Comissão os Srs.:Floriano de Brito, Agliberto Xavier, Philadelpho Azevedo,
Alvaro Espinheira, Pedro do Coutto e José Oiticica. Retiraram-se os Srs.: Said
Ali, Henrique Costa, Alves Potsch, Marcos Baptista dos Santos, João Baptista de
Mello e Souza e Francisco Venancio Filho. Votaram a favor do parecer da Comissão
os Srs.: Euclides Roxo, Eduardo Badaró, Raja Gabaglia, Lafayette Pereira,
Honorio Silvestre, Antenor Nascentes, Mendes de Aguiar, Othello Reis, Rocha
Vianna, José Piragibe, Alexandre Moitrel, Hahnemann Guimarães, Tristão da
Cunha, Adrien Delpech e Christiano Franco.
Pressentindo-se
a péssima impressão que, ao publico instruído e sensato, produz necessariamente
o confronto dos dois programas de Filosofia o livro oficial intitulado __
PROGRAMMAS DE ENSINO DO COLLEGIO PEDRO II __ recentemente publicado, não atende
ao que, em sessão de 10 de Outubro, deliberou a Congregação, mandando publicar
os dois. A esse respeito falei ao ilustre Diretor do Externato do Colégio e ele
me deu imediatamente a justificação, apontando para o dístico que encima o frontispício
do aludido folheto __Departamento Nacional de Ensino __ Foi o
Departamento e não o Colégio que fez a publicação, disse-me ele. A justificação
é realmente perfeita e completa! Posto que julgue muito ponderada e prudente a
resolução do Departamento __ de evitar semelhante cotejo __ não deixarei eu de
fazê-lo aqui, porque a isso, me impele o dever do meu depoimento e da minha
justificação.
Quanto á modificação do meu ensino,
o leitor inteligente e instruído compreenderá facilmente, por esse mesmo
confronto, que, feito o meu curso conforme o meu programa, a relação dos pontos
que constitui o programa oficial se torna assunto de exercícios para os alunos,
exercícios obrigatórios e nos quais empregarei a máxima atenção e rigor
disciplinar, para que nenhuma crítica se faça desrespeitosa á Congregação ou á
douta Comissão.
Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 1925.
AGLIBERTO XAVIER.
RESPOSTA AO PARECER DA COMISSÃO DE
ENSINO SOBRE O PROGRAMA DE ENSINO DA FILOSOFIA
PELO
PROFESSOR
AGLIBERTO XAVIER
Senhor Presidente. A matéria que ora
se discute nesta casa afigura-se-me de tal importância para o ensino, para a
dignidade do magistÉrio e para a própria historia da evolução intelectual da
nacionalidade brasileira, que peço vênia para apresentar por escrito minha
discussão, a fim de precisar melhor minhas idéias, meus sentimentos e minha
responsabilidade pessoal nesta grave questão.
Eu
agradeceria muito penhorado o honroso qualificativo que a digníssima Comissão
dá ao meu programa de obra verdadeiramente notável si, logo abaixo, ela
própria não declarasse que a simples leitura desse mesmo programa revela seu
caráter estreitamente sectário.
O espírito
positivo que resuma de todas as partes do meu programa, Sr. Presidente, é a
negação completa de todo o sectarismo. O que se afigura sectarismo á
honrada Comissão, ou falta de livre pensamento, a outros é a
subordinação consciente e sistemática do abstrato ao concreto e, por conseqüência,
o reconhecimento das leis naturais e sua influencia no domínio filosófico.
Sectarismo é, pelo contrario, a
submissão irracional e azoinada do individuo ou da coletividade a idéias parciais
e desconexas, como sejam as concepções modernas do academismo, mormente do
francês, a ponto de copiarem-se irrefletidamente programas com suas idéias
estreitas e até seus próprios erros, tais quais se encontram em muitas ocasiões.
Não pertenço a numero daqueles que
se ufanam de não ter opinião alguma, para não incidirem em erro; que não têm política,
que não têm religião, que não têm filosofia, para não se incompatibilizarem
hoje com o que vai predominar amanhã. Eu, pelo contrário, tenho opinião filosófica,
política e religiosa, como a tendo cientifica, resultando sempre da aplicação
do método positivo a todos os fenômenos sob a ascendente do espírito de
relatividade. Mas a minha política, a minha religião, a minha filosofia a ninguém
ofende, a ninguém macula, a ninguém prejudica; pelo contrario, a todos buscam
servir, engrandecer e honrar.
Ao
invés dos que dizem não mudar jamais de opinião, eu sou dos que mais prontamente modificam seu pensar, desde que reconheço que
ele não traduz a realidade exterior com a necessária aproximação. Rendo-me á
observação judiciosa do meu aluno ou do meus mais humilde semelhante, desde que
reconheço que com ele está a razão ou a
moral; entretanto, resisto á opinião dos arrogantes morgados da ciência e da filosofia
em voga, quando vejo que aberram da realidade ou da moralidade.
“Percorrei, diz a honrada Comissão,
todos os programas estrangeiros: em nenhum encontrareis coisa que nem mesmo de
longe se assemelhe ao proposto. Pois havemos de fazer exceção ao mundo inteiro?
Estará errado todo o resto da humanidade; seremos nós os únicos detentores da
verdade; estará esta apenas com Augusto Comte, Laffitte, Gall, Broussais,
etc.?”
Parece
incrível que uma Comissão de homens instruídos, e mais nada que isso, de
professores, condene-me sem discussão um programa, porque não é semelhante aos congêneres
estrangeiros. Para uma ilação desta natureza, Srs. Membros da Comissão, não fora
mister o vosso reconhecido saber nem o vosso exuberante talento. Servindo-se
das vossas próprias palavras, pouco se me daria a mim fazer exceção ao mundo
inteiro, si certo de que certo eu estava e errado o mundo inteiro, tendo como
casos análogos todos aqueles que superabundam na história das ciências e das
artes. Mas as verdades que transmito aos meus alunos não estão apenas com os
pensamentos a que aludis, nem contra a humanidade pensante; elas estão com
todos os eminentes rivais da razão humana e constituem, em seu aparecimento,
uma serie que vem dos áureos tempos de Thales e Pitágoras até aos nossos dias.
Srs. Membros da Congregação, quando
tive a honra, como membro da Comissão de Ensino, de dar parecer sobre os
programas dos dois digníssimos professores da cadeira da Física e Química,
depois de procurar acordo entre ambos, pedi-lhes permissão, na qualidade de seu
colega de magistério e mais velho que qualquer deles, para apontar-lhes alguns
senões, e nesta penosa tarefa não busquei confronto com programas de outros países
nem estatística para saber o número dos que eram do meu entender.
Apresentei-lhes as minhas discordâncias, demonstrando-lhes a minha opinião, e
tive a honra de ser aplaudido por quase todos vós e vivamente aplaudido por um
dos próprios catedráticos em questão. Longe de invocar o placet de cientistas estrangeiros, combati-os, sem
lhes citar nomes, e tive a gloria de ser preposto, quase por aclamação, para
confeccionar aqueles programas.
Sr. Presidente, eu não copio
programas estrangeiros para o nosso Brasil, parte integrante deste luminoso Ocidente,
porque aqui encontro elementos para fazer trabalho nosso. E quando me sentisse
forçado a transladá-los, não buscaria catálogos de ensino rasteiro, inçado de erros
inveterados no academismo; procuraria bons índices assim esforçar-me ia por
corrigir-lhes as faltas.
Os
numerosos compêndios de geometria analítica que de todas as partes entram
em nosso mercado ainda não lograram
saber em que consiste a concepção cartesiana, visto que todos repetem o mesmo erro
__ que é aplicação do calculo á geometria. Entretanto, os geômetras modernos
antes de Descartes aplicavam o calculo á geometria sem fazer geometria
cartesiana, e os próprios gregos, usando na geometria de suas modestas proporções, aplicavam-lhe seguramente o calculo sem
generalização de Descartes. Que pensam os ilustres Membros da Comissão de um
programa versando sobre matéria? Havemos de fazer excepção ao mundo inteiro?
Não; absolutamente não. Devemos repetir o erro, porque não é possível que a
verdade esteja só com A. Comte, e toda a humanidade em erro.
Numa publicação feita em 1909, pela
livraria Felix Alcan, sob o titulo De la Méthod dans les Sciences, em que o malsinado filosofo é tratado quase
como um ignorante estúpido, por uma plêiade de acadêmicos, colaboradores desse
livro - diz o Sr. Jules Tannery, á pág. 66:
“Que
de calculs numériques auraient été impossibles sans uns instrument aussi
merveilleux ue la numération décimale!”
“Quantos
cálculos numéricos seriam impossíveis sem um instrumento tão maravilhoso como a
numeração decimal!”
Devem
os Srs. Professores de Matemática negar esse privilegio á numeração decimal?
Absolutamente, não. Seremos nós, porventura, os únicos detentores da verdade?
Iremos nós, míseros brasileiros, corrigir erros a um dos corypheus do ensino da Matemática em
França?
Aí
tendes o pano de amostra da matéria prima que se tem procurado importar sem
reflexão, por um sentimento louvável de respeito pelo Ocidente, mas que carece
de esclarecimentos da boa razão, mormente numa parte dessa mesma região e em
departamento onde ainda ecoa a voz de mestres qual foi a de um Benjamin
Constant.
Não julgueis, Senhores, que eu seja
um insurrecto contra os sábios da atualidade. Muito pelo contrário, o vosso humilde
e obscuro colega de magistério é um dos mais reverentes admiradores do saber e
da virtude; mas, por isso mesmo, não presta suas homenagens a esses trapalhões
que, na ciência, na arte, na filosofia, na politica, etc., constituem estorvo à
marcha progressiva da evolução humana.
Sempre avesso ao oficialísmo e ao
bacharelismo em decretos e reformas de ensino, convidado em 1920 pelo Sr.
Presidente do Conselho Superior de Ensino, como representante desta
Congregação, para colaborar no Anuário daquela instituição, quando se tratava
de criar a Universidade, escrevi estes conceitos que hoje repito com intenso
prazer. Ao começar dizia eu:
“Entre a base instável e precária
das reformas de ensino em nosso país e o firme fundamento em que assenta o
vasto edifício da ciência e da arte, eu prefiro este, ainda na persuasão de
que mais utilidade terá, com a minha
colaboração, se utilidade possam jamais ter minhas cogitações teóricas;”
E
ao terminar, entre outras considerações, faria a seguinte:
“Se
o conjuncto das obras do imortal Francisco Bacon houvesse completamente
desaparecido, bastaria apenas que remanescesse esta profunda sentença, ou
melhor esta lei __ cittus emergit veritas ex errore
quam ex confusione __ para termos o documento seguro da pujança de
seu gênio eminentemente filosófico. Mais de pressa
emerge a verdade do erro que da confusão.
Tanto no império abstrato como no
concreto, no domínio das idéias como no meio social, o progresso emana mais de
pressa de uma ordem qualquer, mesmo fictícia, do que da desordem.
Nunca o sentimento íntimo desta
suprema verdade se patenteou tão energicamente como nos autores dos programas
estrangeiros de filosofia em que a honrada Comissão foi haurir ensinamentos
para a condenação do meu. Tanto os autores franceses sentiram que a confusão de
suas idéias iam necessariamente pear a marcha normal da exposição do pensamento
filosófico que a ilustre Comissão propõe textualmente: “Para maior
facilidade de exposição, pensa também
a Comissão que se deverá declarar expressamente, em nota ao programa, como se
fez em França, que a ordem adotada no programa não deve restringir a liberdade
do professor, bastando que as questões sejam afinal tratadas.” Em resumo, os
próprios autores reconhecem que __para maior facilidade de exposição, a ordem deve ser mudada.
Parece-me, Sr. Presidente, que,
quando a exposição de uma matéria é feita racionalmente, a ultima palavra de
cada sentença é o traço de união para a seguinte.
No intuito de combater o espírito
positivo que prepondera no meu programa de Filosofia e, sobretudo, de fazer
baixar o nível do ensino dessa matéria até ao alcance de qualquer ignorância
palavrosa, a ilustre Comissão insinua o que textualmente aqui transcrevo: “Não
há como aplaudir a propaganda da religião da Humanidade, feita por intermédio
da catedral oficial, quando se nega o direito da imposição da filosofia católica e da religião do Cristo.”
É falso, é
absolutamente falso que eu faça propaganda de qualquer religião, por intermédio
da minha cátedra oficial. Sois bastante inteligentes, Srs. Membros da
Congregação, para compreenderes que um homem na
minha idade, das minhas convicções e da minha firmeza de caráter não
custaria a encontrar nesta capital uma sede aonde fosse pregar esse novo
evangelho, se para ele se sentisse irresistivelmente atraído.
Não teria contra mim os óbices nem o
constrangimento, referências às grandes criações do gênio, do saber e das
virtudes humanas. Faço-as á religião da Humanidade, ao Catolicismo, ao Judaísmo,
as teocracias e ao próprio Fetichismo, ás raças, ás nacionalidades, aos beneméritos
da Humanidade. E tão feliz tenho sido em minhas alusões incidentes que
numerosas simpatias tenho provocado entre os representantes dessas raças,
dessas nacionalidades e dessas próprias religiões, podendo até apontar
respeitáveis sacerdotes do Catolicismo.
Mas não é o curso que eu professor
neste instituto que devera ser o objeto do parecer da honrada Comissão e tão
somente, o programa que apresentei. Esse programa, Srs. Membros da Congregação,
que é, repito, o único objeto de discussão, não só não foi discutido pela dulcíssima
Comissão como nem sequer foi lido no plenário, para que soubésseis que íeis
julgar.
Enquanto a honrada Comissão apoda de
estreito sectarismo um programa constante exclusivamente das magnas questões de
filosofia programadas da ciência em toda a sua integridade e dos importantíssimos
temas de filosofia cerebral e nervosa, que nada encerram podendo melindrar os
sentimentos religiosos e cívicos de ninguém, um dos membros ilustres dessa
mesma Comissão insiste com o Senhor Cônego Mac Dowell par que introduza em seu programa
de Instrução moral e cívica uma
questão de puro jacobinismo, qual a de ___ nacionalização do comercio a
retalho. Será possível que um representante do Catolicismo, isto é, de uma
religião que se consagra a todos os povos e a todas as raças, possa ensinar
semelhante dogma cívico? Poderão fazê-lo também os professores leigos, mas que
sinceramente aspirem à fraternidade universal? Tenho o prazer de consignar que,
a despeito de seus nobres sentimentos de conciliação, o respeitável sacerdote
não aceitou o que lhe foi sugerido.
É sempre penoso falar-se de si próprio
quando se vive na obscuridade e não se busca sair dela. Desde, porém, que
a douta Comissão renunciou a discutir o
programa para ferir o meu curso, sem todavia lhe apontar os erros, eu me vejo
no dever de apresentar aos meus pares da Congregação algumas informações e
esclarecimentos a tal respeito.
Por solicitação de alguns acadêmicos
estudiosos, em 1922, eu consenti fazer na Faculdade de Ciências Jurídicas e
Sociais um curso livre de Filosofia, pelo mesmo programa do Colégio Pedro II,
dando apenas maior desenvolvimento á exposição, porque dispunha de mais tempo,
e tendo em vista a natureza do auditório, pois nele se achavam estudantes de
medicina, médicos e professores da maior distinção. Dentre as pessoas conspícuas
que o compunham e freqüentavam assiduamente as conferencias, revelando o maior
interesse, achava-se o Senhor Conde de Affonso Celso, diretor da Faculdade e
hoje reitor da Universidade desta capital, e o Dr. Antonio Maria Teixeira,
lente no mesmo instituto e da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Eles
poderão bem julgar do valor das insinuações feitas pela honrada Comissão contra
seu velho colega de magistério.
Franqueado aos estudiosos estranhos
a esta casa, o meu curso já está prestando serviços bem assinalados na
orientação dada ao estudo das funções do cérebro, e do sistema nervoso,
conforme se reconhece pelas referencias que se vão encontrando em artigo e
contribuições científicas. Aqui mesmo tenho em mãos uma belíssima monografia de
um doutorando em medicina, ex-ouvinte do meu curso neste colégio, e atualmente
formado, Dr. M.M. Fabião, sobre a sensibilidade térmica. As doutrinas aqui
ensinadas transparecem claramente em todo o trabalho, e o próprio autor
transcreve textualmente as considerações que eu costumo a fazer sobre a dor,
provando que é a sensação levada além do acme, donde a necessária
distinção de dores simples e compostas, conforme provêem de uma só sensação
exagerada ou da combinação de duas ou mais.
Para sair do prelo, dentro de uma
semana talvez, acha-se uma das mais notáveis teses que jamais tenham sido
apresentadas à Faculdade de Medicina desta Capital. Sob o titulo de Teoria da
Sensação, seu autor aprecia a importância filosófica das sensações na
formação do entendimento, fisiologia nas relações do cérebro com o mundo
exterior e o corpo, nas sinestesias ou conhecimento da própria personalidade, e
patológica nas modificações que seu desvio opera, desde o entendimento, desde a
alteração da noção do eu, da sinestopatia em suma, até a descoordenação
dos movimentos, que tem por base a sensação muscular, e outras perturbações.
Seu autor, Dr. João Francisco de Souza, um dos espíritos mais brilhantes da
moderna geração, posto que sumamente modesto, demonstra de modo irrefutável filosófica
e patológicamente o numero preciso de nossas sensações e estuda anatomicamente
cada uma, desde o órgão receptor no tegumento até ao gânglio em que se dá a
sensação, na base do cérebro. Ele dá-nos a honra de declarar, aliás exagerando,
os ensinamentos que hauriu desse curso de profetizar referencia da doutíssima
Comissão.
Em preparação e prestes a entrar
para o prelo, está outra tese a do Doutor Agliberto Themistocles Xavier, que
também acaba de concluir seu tirocínio acadêmico e que, freqüentando o meu mal
referido curso, tomou por tema para sua tese uma as questões ali sugeridas e
examinadas sumariamente __ Nevroses da nutrição.
Depois
de justificar a existência dos nervos nutritivos, o autor combate, como desnecessária,
a concepção dos nervos dilatadores, aceleradores, retardadores, paralisantes,
excito-secretores, coloradores, etc. Demonstrando que só existem realmente três
espécies de nervos: sensitivos, motores e nutritivos. Mostra me seguida que, do
mesmo modo que há nevroses da sensibilidade e da mobilidade, também as há tróficas
ou da nutrulidade. Mas a parte mais interessante de sua tese é aquela em que
ele assinala que moléstias de origem internas
ou endógenas são verdadeiras nevroses, nevroses tróficas quando afetam os
aparelhos da nutrição. Posto isto, tem ele os elementos fundamentais para a
coordenação de toda a patologia.
PROGRAMMA DO PROFESSOR AGLIBERTO XAVIER
Como se vê pela leitura do meu
programa, ele consta de quatro partes:
Filosofia
Primeira, Psicologia Científica, Lógica e Historia da Filosofia.
A
Coordenação mais remota da filosofia, que geralmente se conhece e ensina, sendo
a escolástica, eu começo por ela, deixando para a historia da filosofia
e apreciação da filosofia grega sob os seus diversos aspectos. Indicando a filosofia
escolástica, assinalo as suas diversas partes: filosofia primeira, de Aristóteles, que os tradutores e
comentadores daquele pensador denominaram metafísica, por oposição a um
tratado do mesmo, intitulado, física; filosofia racional ou lógica e filosofia
moral ou moral, propriamente dita.
A
Filosofia Primeira ou metafísica não podendo, como hoje, versar sobre as
leis universais do homem estendendo-se ao mundo, e do mundo prolongando-se ao
homem, versou sobre entidades abstratas, materializando as propriedades dos
corpos, os atributos Moraes, intelectuais e práticos do homem e personalizando
a divindade. Dai a subdivisão que lhe davam: ontologia, psicologia e
teologia.
Moderadamente,
compreendeu-se que das leis naturais, que regem o mundo exterior, resulta a
concepção positiva do mesmo, donde a denominação de filosofia natural. Tal foi o título que Newton deu à
sua obra.
Pondo
este tema como preliminar do Curso de Filosofia, pergunto eu à douta Comissão, onde está o meu
sectarismo?
FILOSOPHIA PRIMEIRA __ A Filosofia
Primeira, de Aristóteles,foi retomada por Bacon, que a vislumbrou
constituída de leis universais, de maior generalidade que as leis astronômicas
e físicas, conhecidas em meu tempo.
A época em que viveu Bacon não lhe
permitiu a necessária generalização; esta só pôde ser realizada dois séculos
depois de Comte.
O
sentimento de anti-sectarismo da honrada Comissão irá a ponto de proscrever as
relações invariáveis que ligam os fenômenos, só porque foram formuladas pelo
representante ilustre de uma religião? Condenará essas leis porque foram
redigidas por Comte, fundador da Doutrina da Humanidade, ou as da gravitação
universal, por haverem sido descobertas por um eminente representante do
protestantismo?
Se assim não é, seguem-se as quinze
leis, das quais poucas são as que realmente se devem ao gênio de Comte.
A
primeira lei, a lei básica da filosofia primeira, é indicada no meu programa sob
as três formas porque tem sido apresentada: concepção teológica __Deus age
sempre na forma pelo caminho mais curto; forma metafísica __ A Natureza
economiza sempre suas forças; enunciado positivo ___ Formar a hipótese mais simples e mais simpática que comporte o conjunto
dos conhecimentos que se vêem de representar.
Esta
lei é o fundamento de toda indução, porque a pesquisa das relações pressupõe a
observação, e nenhuma observação se pode fazer, sem uma concepção qualquer. A hipótese,
isto é, a concepção antecipada, supre o conhecimento a posteriori e
torna-se, destarte, o ponto de partida de induções fundamentais. Haja vista a hipótese
geocêntrica servindo de base a astronomia preliminar.
Em seguida, a imutabilidade das leis
naturais torna-se a segunda condição necessária a toda indução. Em vez de
assegurar de modo absoluto que as leis naturais são enlutáveis, o espírito
relativo da ciência moderna leva-nos ao enunciado: Conceber como imutáveis
as leis que regem os seres, segundo os acontecimentos.
As modificações que sofrem os fenômenos
em sua intensidade fizeram supor os primeiros observadores que certas leis,
mormente as que regem o homem, sofrem alterações. Mas o gênio de Broussais
reconheceu, no caso especial da fisiologia, que, entre a saúde e a moléstia, só
há diferença de intensidade dos fenômenos, ficando invariáveis as leis fisiológicas.
Desapareceu assim a fisiologia fitológica. Também pareceu aos primeiros químicos
que as leis de composição dos corpos sofreiam modificações quando representavam
transformações passadas dentro dos organismos vivos. Mas, quando se reconheceu
bem claramente à identidade entre a matéria viva e a matéria não viva, apareceu
a química chamada orgânica. Desses apanhados resultou a lei que __ Quaisquer
modificações da ordem universal se limitam a intensidade dos fenômenos, cujo
arranjo fica inalterável.
Haverá sectarismo
nestas considerações? Certamente que sim! __ dirão os doutos membros da
Comissão, porque A. Comte andou por ai, e, se não se exprimiu textualmente
desse modo, forneceu elementos para tais idéias. Perguntarei eu: estão erradas
essas leis? São falsos esses assertos? Fazendo justiça aos preciosos dotes intelectuais
da Comissão, eu suponho que ela não negará, mas poderá responder-me que não
está nos programas estrangeiros, nem mesmo nos da França, pátria do malsinado filosofo,
e não seremos nós os únicos detentores da verdade.
O segundo grupo de leis universais
começa com a primeira lei estática do entendimento, cujo sublime esboço, devido
ao gênio pasmoso de Aristóteles, se acha em todos os tratados de filosofia: Não
há na inteligência que não tivesse vindo pelos órgãos dos sentidos. Essa
lei, mesmo com o complemento de Leibnitz __ exceto a própria inteligência, ainda é incompleta à vista dos estudos
modernos sobre o entendimento humano.
É preciso dizer que a razão ou
inteligência se nutre dos materiais vindos do mundo exterior, como afirmava o
sublime estagirita, e como conseqüência disso é indispensável reconhecer que as
concepções devem submeter-se constantemente a esses materiais. Eis por que
semelhante lei, base da teoria do entendimento, carece de uma forma mais
completa: Subordinar as construções aos materiais objetivos. Tal redação mostra como o perfeito estado de
razão oscila entre a demasia dos materiais exteriores e o excesso de trabalho
interior. Em seguida vêem as leis que regulam a assistência das imagens em
nossas meditações, mormente nas induções. Elas distinguem também a realidade da
imaginalidade, a nitidez da confusão, e dão-nos a concepção exata das
alucinações.
Seguem-se
três outras leis que regulam a nossa tríplice evolução: intelectual, ativa e
afetiva.
Tais são as leis referentes especialmente
ao entendimento e que se tornam de alguma sorte extensivas ao mundo porque o
contemplamos através do entendimento.
Passamos, então, às leis da mecânica
geral, que se estendem a todos os seres e a todos os fenômenos, porque todos os
seres reais, estão sujeitos não só a
forma como ao movimento, e, por outro lado, a química moderna mostrou a
perfeita identidade da matéria que a constitui a todos, não organizados e organizados.
A
generalização dessas leis representa uma das conquistas mais brilhantes da filosofia
moderna. Basta dizer que, em vez da concepção metafísica da energética,
consistindo em admitir a existência de uma entidade abstrata ___ a energia __ metamorfoseando-se aqui, em
calor; ali, em trabalho mecânico; acolá, em eletricidade, etc., a lei Kepler,
sobre a persistência, e a de Newton, atinente à reação, nos dão conta perfeita
dessas pretendidas transformações. Tudo está em considerar a matéria como
essencialmente ativa, de atividade física e química. Atuando sobre um corpo de
qualquer fôrma e pôr qualquer de seus atributos, ele reage porque é realmente
ativo e aproveitando-se então de uma dessas múltiplas reações para atuar sobre
outro corpo, temos ai fenômenos importantíssimos de comunicação de atributos,
de ações de reações que, consideradas sob alguns de seus aspectos apenas,
formam aquilo que a ciência moderna chama: termodinâmica, termo-química, eletrodinâmica
e eletroquímica. Por outro lado, recusando-se essa pretendida metamorfose,
admitem-se apenas as ações e reações, cuja equivalência é regulada pela lei de
Newton e cuja determinação, específica para cada caso, faz objeto de grandes
pesquisas.
Para que insistir mais sobre a
importância cientifica e filosófica dessas formidáveis generalizações, presenciadas
pelo gênio de Bacon e realizadas pelo de Comte? Pergunto aos ilustrados membros
da Congregação se estas leis, estas generalizações, estes importantíssimos
problemas da ciência e da filosofia modernas depois de professados nesta casa
com aplausos de ouvintes de talento, engenheiros, médicos, professores,
pertinentes, em suma, às chamadas profissões liberais, devem ser abafados no
silencio da ignorância, só para nos não apartarmos dos moldes estreitos do
ensino estrangeiro, só para não parecermos os únicos detentores da verdade?
Para que esta douta corporação possa compreender mais claramente a alta
responsabilidade que lhe pesa sobre os ombros e o ridículo de que se cobre dentro mesmo do nosso país a
razão se aliem ao bom senso e ao saber; basta confrontar este programa de Filosofia
Primeira com o programa de Filosofia Primeira, também denominada metafísica, que
a ilustrada Comissão pretende pôr em seu lugar.
Psicologia Científica ou Ciência da
Construção_ O primeiro tema que apresento no programa de Psicologia é a
concepção metafísica da alma, segundo Platão, e as modificações que
posteriormente tem sofrido esta idéia fundamental. Posta assim a questão,
indico as conseqüências relativas, não só à doutrina, como ao método. As conseqüências
atinentes à doutrina são a unidade e a imortalidade; a referente ao método é
processo de introspecção. Tal é a Idea espiritualista acompanhada de seus corolários
inevitáveis. Passo, em seguida, à
concepção psicologia ou positiva, fundada no princípio de que não há função sem
órgão. Dessa premissa decorrem conseqüências necessariamente contrarias à idéia
espiritualista, quer quanto ao método, quer quanto à doutrina. Relativamente á
doutrina, vem a pluralidade dos órgãos, donde o embaraço da unidade psíquica,
da qual decorre o grande problema moral e religioso. No tocante ao método,
reconhece-se logo a impraticabilidade da observação interior e a conseqüente
necessidade do uso do método subjetivo ou construtivo, completado pelo objetivo,
ou anatomo-patológico.
Ficam assim perfeitamente
caracterizadas as duas grandes concepções da alma: a metafísica ou espiritualista
e a psicológica ou impropriamente qualificada de materialista, com suas inevitáveis
conseqüências.
Dentro dessas duas concepções
encontram-se todas as idéias correntes a respeito do assunto.
Para desenvolver a matéria no ponto
de vista psicológico, cientifico ou positivo, busco precisar o problema, e
lembro que neste mister a obra de Gall realiza
admiravelmente semelhante desiderato, sem, todavia dar a solução
definitiva da questão.
Nos pontos subseqüentes mostro que a
solução positiva do problema exigia a determinação exata de todas as funções
simples, porque a cada função simples é que corresponde um órgão. As funções
compostas provêem da associação das funções simples resultando da ação de um
aparelho, isto é, de um concurso de órgãos. A formação de um quadro de funções
simples torna-se, portanto, necessária, não só para a localização como para uma
rigorosa analise pscológica, á guisa das análises químicas.
Cabe aos professores fazerem nesse
passo o histórico e apreciação atual do estado dessa questão, mostrando que
Flourens, para combater Gall, entendia que o cérebro não era, como ensinava a psicologia
de Viena, um vasto aparelho, mas um só órgão; entretanto, as experiências de
Fritsch e Hitzig, a observação de Broca, os trabalhos de Ferrier, Munk, Charcot
e outros demonstraram, não só a irritabilidade de córtex cerebral, como ainda a
pluralidade das suas funções, segundo a genial indução do famoso psicologista.
Posto nestes termos o programa da psicologia,
propriamente dita, há alguma imposição que contrarie o espírito liberal do
ensino?
Completando esse estudo psicológico,
torna-se necessária à teoria da sensação, para que possam compreender os fenômenos
de alucinação e êxtase, sonho, sono e sonambulismo. A teoria da sensação é
apresentada sob o duplo aspecto: metafísico, com o seu sensorium commune, e
positivo, admitindo-se a pluralidade das sedes sensoriais.
Torna-se, também, indispensável
apreciar os estados extremos da razão humana: loucura e idiotismo, e, por
conseguinte, o estado médio, ou de equilíbrio mental.
A essas questões prendem-se,
naturalmente, as de alienação e criminalidade, indispensáveis ao julgamento das
ações humanas.
Encerrarão os enunciados dessas
questões alguma imposição de doutrina, alguma coação ao pensamento? Encaminham
apenas, como todos os programas bem elaborados da ciência, o pensamento para o
terreno positivo; e nem se poderia compreender de outro modo à solução dos
grandes problemas acima referidos.
LOGICA
__ No primeiro tema, sobre a lógica procuro assinalar logo o vicio de sua construção,
que consiste em separá-la, quer de sua fonte social __ o sentimento,
quer de seu destino pratico __ a atividade. Esse vício fundamental tem
sido de algum modo sentido pelos filósofos modernos que lhe têm anexado o domínio
da estética, sem, todavia caracterizar bem o método correspondente, isto é, o método
construtivo. Indico também, a propósito, a inseparabilidade o método e da
doutrina, como prova o exemplo da evolução da matemática.
Cultivados separadamente, o calculo
e a geometria, marcaram passos, pode assim dizer-se, desde Thales até
Descartes. Em meio século de associação, tanto um como outro sofreram
desenvolvimento relativamente superior ao que tiveram no intervalo de mais de
vinte séculos, que separam as duas pujantes celebrações. Também o ensino
quotidiano da matemática, mesmo na parte mais elementar, mostra que a exposição
do método, isto é, do calculo, fica improfícuo, quando não é seguido de exercícios
reiterados nas suas aplicações á doutrina geométrica ou mecânica.
Ligado aos dos extremos de que se
manteve separada, a lógica apresenta, então, três grandes métodos: indutivo,
dedutivo, e construtivo. Quer isto dizer que todo o raciocínio completo
consiste em estabelecer princípios, tirar conseqüências para realizar-se uma
construção. Tão sensível se tem tornado esta verdade que o Senhor Th. Ribot
tentou ultimamente, sistematizar o método construtivo num trabalho publicado em
1907, sob o titulo Lógica dos sentimentos. Parece-nos, entretanto, que o
Sr. Ribot ainda não se manifestou estreito sectário do Positivismo.
Em pontos subseqüentes lembro o
papel que cada um dos três elementos lógicos __ sentimento, imagem e sinal
__ desempenha na construção, na indução e na dedução.
Transfiro-me depois à concepção do método,
comparando-lhe o uso, na ciência e na arte, com o da maquina na indústria,
porque ambos aumentam o nosso poder intelectual e material, sem, contudo nada caiar.
Vem, após, a apreciação do
evolucionar da lógica, onde desempenha papel preeminente a obra de Aristóteles,
intitulada Organum, em que ele procura dar balanço aos processos sistemáticos
do raciocínio usados em seu tempo. Nessas condições é que vem a apreciação da
teoria do silogismo. Retomando muitos séculos depois essa teoria, Leibnitz e
Euler, inspirados pelo poder dedutivo e sistematizador do calculo, quiseram
refazer a lógica dedutiva, voltando-se, destarte, para a analise silogística.
Mais bem apreciado, depois, pelos grandes trabalhos matemático-filosóficos de
Lagrange, compreendeu-se então todo o poder dedutivo do calculo, e, ao mesmo
tempo, insuficiência dos meios silogísticos para sistematizar-lhe o emprego.
Tais são as idéias sugeridas pelos
primeiros pontos de lógica com sua aplicação para uso daqueles que têm de
ensinar.
Dai por diante sucede-se a análise
minuciosa dos processos de indução, de dedução e construção. Indico, demais, os
artifícios, mormente objetivos e acessórios, para facilitar a indução em
diversas silencias: a observação, a experimentação, a analise e a síntese,
donde a nomenclatura, a comparação e a filiação histórica. Não deixo também de assinalar
as idéias geais que resultam das grandes induções da física e da química:
1o __ a indestrutibilidade
da matéria;
2o __ a dupla atividade
da matéria, física e química;
3o __ identidade entre a matéria
viva e a não viva, de modo que toda a matéria é essencialmente mineral.
PROGRAMA
DA COMISSÃO
Então agora, Senhor Presidente, na
apreciação do programa substitutivo da ilustrada Comissão, que, segundo o próprio
depoimento não é inteiramente de sua lavra, mas de colaboração estrangeira,
mormente francesa.
No primeiro ponto encontra-se, entre
outros temas, o seguinte: Filosofia e metafísica. Por metafísica
entendem-se duas coisas diferentes: um dos estados evolutivos de nossas
concepções, e, por conseguinte, da própria filosofia, e aquilo que Aristóteles,
Bacon e Comte chamaram Filosofa Primeira. No primeiro caso semelhante enunciado
figurava, por exemplo, como Astronomia e metafísica, no segundo como Astronomia
é geometria celeste. Por que não se intercalou também, pelas mesmas razões,
um tema semelhante e de não menos importância __ Filosofa e teologia? Isto
basta, Senhor Presidente, para dar-nos a mostra da consistência do pensamento
que presidiu a confecção desse programa.
Mais adiante, no ponto n.5, depois
de indicar: __ Classificação dos fatos psicológicos __ segue-se __As
funções gerais da consciência. Será, porventura, consciência algum órgão ou
algum aparelho que exerça uma função? Racional seria que o autor francês ou a
douta comissão escrevesse o contrário: Classificação das funções psicológicas.
Os fatos gerais da consciência. Parece que o malsinado estilo do obscuro
professor de Filosofia do Externato do Colégio Pedro 2°, apesar de
característico das obras medíocres de Comte, possui mais consistência, mais
clareza e mais precisão.
Passando ao ponto seguinte, os
ilustres colaboradores do programa abeiram os – Fenômenos afetivos, e
indicam O prazer e a dor. Parece-me
que era do prazer e da tristeza que eles cogitam, porque dor é um fenômeno
do sistema nervoso. O meu eminente mestre Audiffrent ensinou ha cerca do meio século,
e os fisiologistas da atualidade já se vão convencendo, que a dor é uma ou mais
sensações exageradas. Outros, porém, para explicá-la, criam uma sensação especial.
Seja como for, todos estão de acordes em que é um fenômeno sensorial e não psíquico.
Os pontos 7,8 e 9 são uma verdadeira
mixórdia, tal é a deplorável confusão de idéias. Indicando no ponto 7 – Atividade
afetiva espontânea – no seguinte é que se vai tratar de – Sentimentos. Pois
essa afetividade afetiva espontânea e até sistemática não é uma manifestação ou
função dos sentimentos? No ponto seguinte, n.8, trata-se de tendências e
inclinações, do 9° ao 20° cogita-se da inteligência e da atividade e,
finalmente, no ponto 21 volta-se ao sentimento, cuidando-se então de instintos.
Uma das mais
lúcidas observações sobre os estados dos órgãos do sistema nervoso fê-la o
grande fisiologista de Viena, guiado pelo senso comum consignado na linguagem
popular. Gall observou que os diversos órgãos dos sentidos funcionam, ora no
estado passivo, ora no ativo, como indicam as palavras – olhar a ver, ouvir
e escutar. Infelizmente, porém, não levou para os órgãos cerebrais essa distinção
e desdobrou-os para representar esses dois modos de exercício de uma mesma
função; dai a critica inexorável de seus detratores. No estado passivo,
qualquer desses órgãos se manifesta pelo sentimento correspondente; no
estado ativo funciona como inclinação. Encarando-se, porém, num e noutro
caso, sem distinção, denomina-se instinto.
Entre tendência
e inclinação não ha distinção psicológica; portanto o enunciado do ponto
nenhuma noção certa contém. Os pontos 7, 8, 9 e 21 servem apenas, neste
programa, para provar a única ponderação criteriosa que ele encerra,
consistindo em permitir ao professor que altere a ordem nele estabelecida. Será
isto um programa ou um rol?
Tratando,
das faculdades intelectuais, os autores do programa cometem um erro lógico deplorável,
fazendo a distinção entre percepção interna e percepção externa. Em toda o
percepção, além da operação dos sentidos, não pode deixar de haver a operação
complementar intelectual, como atestam irrecusavelmente as observações, quer do
estado normal, quer do patológico. A percepção do mundo exterior, como todas as
outras, é um trabalho para o qual concorrem não só os sentidos como o próprio cérebro,
e tanto assim que, em certas moléstias cerebrais, o doente recebe a impressão
do mundo exterior, as imagens formam-se no aparelho ganglionário, mas o
individuo não percebe, porque se acha em estado de inconsciência mental, e não
sensorial. Quantas vezes, no próprio estado normal, o sujeito recebe todas as
impressões de um objeto, ou de outro individuo mesmo, e não consegue
percebe-lo, porque a inteligência não se aplica, tomada de certa paixão, ou não
consegue reconhece-lo, porque a imagem interior, já formada, não existe mais?
A
percepção do eu também se faz por este duplo trabalho; são os sentidos
do tacto e da musculação, principalmente, e acessoriamente, os da visão da
audição, etc., que fornecem os materiais necessários para que a nossa inteligência
forme o conhecimento de nós mesmos, e tanto é verdade que, quando uma lesão nos
gânglios cerebrais, no corpo estriado ou nas camas ópticas, nos priva dessas
sensações fundamentais, nós nos desconhecemos. É muito sabido o caso do Dr.
Beaudeluc, aliás medico eminente, que, privado das sensações tácteis e
musculares, afirmava não existir mais, dizendo que o corpo de onde partia a sua
voz não era dele. O Sr. Ribot, no seu interessante opúsculo sobre as Moléstias
da personalidade, cita o caso de um soldado que, ferido na batalha de
Austerlitz, assegurava não existir mais, desde aquela data. Para quem qualifica
de internas as funções intelectuais toda a percepção é necessariamente interna.
Em o
numero 14, a honrada Comissão trata da imaginação reproductiva; de 14 a 17, de
funções complexas de inteligência. No ponto 18, da linguagem, e no seguinte,
19, volta a imaginação, sob o titulo – a atividade criadora e o papel da
imaginação. Isto confirma, ainda uma vez, a necessidade de revolver todo
esse rol ou relação desconexa de assuntos para que se possa fazer uma exposição
racional.
Para que
insistir mais? Careceria de muitas sessões extensas de congregação, para analisar
todas as discórdias deste programa. Não deixarei, entretanto, de assinalar esse
fato interessante que ocorre no programa de lógica. Para mim, a lógica se
compõe de três partes: indutiva, dedutiva e construtiva, mas geralmente não se
pensa assim. A construção fica fora do domínio da lógica, de modo que, para os
que assim pensam a lógica se divide em indutiva e dedutiva. Nesta ordem de idéias,
Stuart Mill e seu compatriota Bain consagram dois volumes à lógica: um volume
inteiro é consagrado á indução, e outro á dedução. No programa de lógica da ilustrada
Comissão encontra-se: ponto 28 – raciocínio e argumento. Indução e dedução. E
mais adiante, no ponto 31, encontra-se: Indução e hipótese.
Basta!
Resta-me
agora dizer á Congregação, Senhor Presidentes, que toda a relação de Temas
constantes do programa da honrada Comissão se acha contidos no meu, já explicito,
já implicitamente; apenas algumas questões do que é ali designado sob o nome de
ética não se encontram de modo claro, porque o primitivo programa de minha
cadeira constava, por lei, de Psicologia, Lógica e História da Filosofia, e
atualmente, desnecessário se tornava, porque uma cadeira foi criada com a
designação de – Instrução moral e cívica – e outra com a de – Sociologia.
Entretanto, ser-me ia sumamente grata a incumbência de ensinar aos meus
jovens compatrícios os princípios da moral de que meu curso de Psicologia nada
mais é que o fundamento biológico.
Sr.
Presidente – Ao começar a minha longa resposta ao parecer da honrada Comissão,
aludi á importância que esta matéria tem para o ensino, para a dignidade do magistério,
e para a própria historia da evolução intelectual da nossa nacionalidade. Foi
sob o sentimento imperioso da dignidade da nossa classe que me recusei,
terminantemente, a cumprir a comissão com que me honrou esta douta Congregação,
encarregando-me de redigir os programas de física e química, deste
estabelecimento. Sentia bem que esta providencia da Congregação iria diminuir
os nossos digníssimos colegas no conceito publico. Nesta conjuntura produz ao Senhor
Presidente da Congregação que nomeasse uma comissão composta dos dois aludidos catedráticos
e de mim; eu prestaria então aos meu honrados colegas o concurso que eles
pudessem colher dos meus estudos e da minha experiência do magistério. O
programa sairia, como saiu, sob a assinatura de um deles, certo de que, si
alguma idéia minha ai aparecesse seria por sua livre e honrosa aceitação. Se é
fato, pouco honroso para o magistério. O programa de um professor catedrático,
nomeado para esta Casa depois de concurso que lhe não desonra as tradições,
permita-me, Sr. Presidente, que, sem desenvoltura de vaidade, eu afirme ser
realmente desairoso se rejeite o programa apresentado, cujas idéias fundamentais
são geralmente conhecidas, substituindo-o pela compilação desconexa que acabo
de analisar.
Como
professor deste estabelecimento, tenho o dever de protestar contra este ataque
á dignidade do magistério; como particular, porém, julgo-me acima de tudo isto.
Basta que eu observe o preceito de viver ás claras, a que me tenho
sempre submetido, tanta na vida privada como na publica, que apresente aos meus
concidadãos os dois programas aqui em debate e as minhas razões também aqui
aduzidas, para me sentir abroquedado (defendido), contra essas pequenas setas.
Srs.
Membros da Congregação – Mais comodamente eu me sentiria em meu lar,
descansando sob a disponibilidade que a lei me garante. Mas tenho a convicção
de que estou cumprindo um árduo dever para com a Pátria, resistindo aqui aos
embates da retrogradação, e na minha cátedra ensinando os grandes princípios da
ciência moderna, de que vos falei, mostrando que, longe de separar-se da filosofia
e da religião, a verdadeira ciência moderna ha de associar-se a elas e
restabelecer a continuidade de histórica, quebrada pela revolução.
Se me
não é dado a mim fazer a mocidade do nosso país progredir quanto eu quisera,
também não o é a ninguém desviá-la eternamente da marcha da evolução. Honrados
membros da Comissão, serrai as portas e janelas desta instituto de ensino,
calafetai-lhes as fendas, demiti o vosso obscuro colega de magistério, reduzi-o
a cinzas, e mesmo assim tereis o descontentamento de verificar que nesta, como
em todas as outras casas de ensino, hão de penetrar as idéias que professo,
como as ondas sonoras vão atuar nos aparelhos modernos de telefonia.
Sr.
Presidente – O grande orador sacro que foi Mont’Alverne, retirando-se da
tribuna eclesiástica, com a alma profundamente amargurada, disse que ela foi a
pira em que arderam seus olhos, cujos degraus desceu só e silencioso para
esconder-se no retiro do claustro. Na minha insignificância, embora, poderei
dizer, aludindo á minha cátedra, que nela se tem incendido (ardente) a minha
alma, procurando arrastar o espírito da mocidade para os grandes pensamentos
que o gênio humano tem criado.
Também
me retirarei só e silencioso para recolher-me ao remanso de meu lar. E quando,
em breve, pelo começo da morte, as fibras musculares se me paralisarem, salvo
as da respiração e da circulação, talvez ainda me reste alguma sensibilidade; e
os olhos imóveis e abeberados ainda contemplarão a beleza da nossa Pátria
enobrecida pela majestade desse porvir que tanto tenho pronunciado.
PROGRAMMAS
DE PHILOSOPHIA
___________
Para que
se possa fazer perfeito confronto dos dois programas, colocamos ao lado das
partes sucessivas do nosso as partes correspondentes do da Comissão.
__________
PROGRAMMA DO PROF. AGLIBERTO XAVIER
Concepção
escolástica da Filosofia. Filosofia Primeira de Aristóteles ou Metafísica de
seus tradutores e comentadores. Ontologia, Psicologia e Teologia. Filosofia racional
ou lógica. Filosofia moral ou Moral propriamente dita. Concepção moderna da Filosofia.
Filosofia natural.
PHILOSOPHIA
PRIMEIRA
Da Philosophia
primeira modernamente encarada por Bacon e Comte, como constituída de leis
naturaes.
Primeiro grupo
de leis, tanto objectivas como subjectivas:
Lei básica da
Philosophia primeira. Seu apanhado primeiramente theologico __ Deus age
sempre na ordem pelo caminho mais curto __ depois metaphysico __ A
Natureza economiza sempre suas fôrças ___finalmente positivo ___ Formar
a hypotese mais simples e mais sympathica
que comporte o conjuncto dos conhecimentos que se têem de representar.
Consideração das hypotheses como artifícios lógicos
indispensáveis à inducção,
|
|
PROGRAMMA
DA COMMISSÃO
1.
Sciencia e Philosophia. Posição da philosophia no quadro dos
conhecimentos humanos. Differentes conceitos de philosophia. Philosophia e
metaphysica. Divisão da philosophia.
(PHILOSOPHIA
PRIMEIRA) METAPHYSICA
Observação __ A
parte de Philosophia primeira deste programma começa em o n.55.
55. O problema do
conhecimento. Relativismo, scepticismo e dogmatismo.
56.
Existência do mundo exterior. Espaço e tempo.
57.
A matéria e a vida.
58.
Theoria da alma e do corpo. Espiritismo e
materialismo.
59.
Theoria da existência de Deus. Exposição critica das
provas.
60.
O problema do mal. Valor da vida. Optimismo e
pessimismo.
|
quer espontânea, quer systematica. Exemplo do uso das
hypoteses na formação do eterno typo da verdadeira sciencia ___ da
Astronomia.
Da immutabilidade
das leis naturaes. Sua concepção absoluta segundo a theologia e a
metaphysica. Concepção relativa peculiar ao espírito positivo e conforme a
lei básica da Philosophia primeira: conceber como immutaveis as leis que
regem os seres segundo os acontecimentos.
Da integridade das
leis atravez das modificações da ordem
universal. Quaesquer modificações da ordem universal são limitadas à
intensidade dos phenomenos cujo arranjo fica inalterável. Presentimento desta lei por Broussais
quando assignalou a immutabilidade das leis physiologicas nos proprios casos
pathologicos, e até por Lavoisler, reconhecendo a inalterabilidade das leis
da chimica na composição e decomposição dos corpos dentro mesmo dos
organismos vivos.
Segundo
grupo de leis, essencialmente subjectivas.
Primeiro
sub-grupo; relativo ao estado estático do entendimento:
Subordinar
as construcções subjectivas aos materiaes objectivos. Esboço dessa lei por Aristóteles ___ Nada
há na intelligencia que não venha pelos sentidos. Sua apreciação
successiva por Leibnitz e Kant.
Leis
complementares relativas às imagens, servindo para descriminar a realidade da
ficção e a nitidez da confusão de imagens: As imagens interiores são
sempre menos vivas e menos nítidas que
|
|
|
as impressões exteriores. Toda imagem normal deve
ser preponderante sobre as que a agitação cerebral faz simultaneamente
surgir.
Segundo
sub-grupo; relativo ao surto dynamico do entendimento.
Lei
fundamental da dynamica do entendimento ___ Cada entendimento apresenta a
successão de três estados: fictício, abstracto e positivo, para quaesquer
concepções, com velocidade proporcionada a generalidade dos phenomenos
correspondentes.
Leis
complementares, relativas à evolução da actividade e do sentimento: A actividade é primeiramente
conquistadora, depois defensiva e finalmente industrial. A socialibilidade é
primeiramente domestica, depois cívica e finalmente universal, conforme a
natureza própria de cada um dos três instinctos sympathicos.
Terceiro
grupo de leis, essencialmente objectivas.
Primeiro
sub-grupo. Generalização a todos s phenomenos das três leis básicas da
mecânica geral:
Lei da persistência
__ Todo estado estático ou dynamico tende a persistir espontaneamente sem
alteração alguma, resistindo ás perturbações exteriores. (Kepler).
Lei da
coexistência __ Um systema qualquer mantém sua constituição activa ou
passiva, quando seus elementos experimentam mutações simultâneas, comtanto
que sejam exactamente communs. (Galileu)
|
|
|
Lei da
equivalência __ Há sempre equivalência entre a reacção e a acção, se sua
intensidade é medida conforme a
natureza de cada conflicto. (Huyghens e Newton).
Segundo
sub-grupo:
A
evolução decorre da ordem como a dynamica da estática, segundo o principio da
mutualidade de D’Alembert. Subordinar sempre a theoria do movimento à da
existênca, concebendo todo progresso como desenvolvimento da ordem
correspondente, cujas condições, quaesquer regem as mutações que constituem a
evolução.
Lei da
classificação: Toda classificação positiva deve proceder segundo a
generalidade crescente ou decrescente, tanto subjectiva como objectiva. Lei
do intermediário: Todo intermediário deve ser normalmente subordinado aos
dois extremos cuja ligação elle opera.
PSYCHOLOGIA
Concepção
metaphysica de alma.
Conseqüências
relativas à doutrina: unidade e immortalidade da alma.
Conseqüência
referente ao methodo: processo de introspecção.
Princípio de
philosophia physiologica ___Não há funcção sem órgão ___ do qual
resulta a concepção positiva de alma. Conseqüências quanto á doutrina:
pluralidade dos órgãos e difficuldade da unidade psychica, donde o grande
problema moral e religioso. Conseqüências attinentes ao methodo:
impraticabilidade da
|
|
PSYCHOLOGIA
2.
Objecto, importância e methodo.
3.
O facto psychologico e suas características
differenciaes. Psychologia e Physiologia
4.
A consciência psychologica. O problema do
inconsciente.
5.
Classificação dos factos psychologicos. As funções
geraes da consciência e os factos psychologicos particulares.
6.
Os phenomenos affectivos. O prazer e a dor.
7.
Actividade affectiva espontânea.
|
observação interior; uso do methodo subjectivo ou
constructivo, completado pelo methodo objectivo __ anatomo-pathologico.
Analyse da obra de
Gall encarada como posição do problema da psychologia no terreno positivo:
1º, considerando a alma como o conjuncto de impulsos affectivos, faculdades
intellectuaes e qualidades praticas; 2º, admittindo que, a cada uma das
funcções simples desse complexo corresponde um órgão; 3, localizando todos
esses órgãos no cérebro. Insufficiencia dos meios scientificos de Gall para a
solução definitiva de seu probelma.
Impossibilidade da
localização de funcções e mesmo de uma analyse psychologica perfeita sem um
quadro prévio das funcções simples ou irreductiveis. Solução apresentada por
Comte. Quadro das funcções simples e sua localização. Exame de algumas
funcções compostas.
Theoria da
sensação. Determinação do numero de sentidos do Homem. Concepção antiga do sensorium
comune e theoria moderna da pluralidade das sedes sensoriaes. Localização
dessas sensações.
Allucinações e
extasis. Somno, sonho e somnambulismo.
A apreciação geral
dos estados extremos da razão humana: loucura e idiotismo. Equilíbrio mental.
Considerações
geraes sobre a alientação e a criminalidade.
Impulsos
irresistíveis por exaltações de moveis affectivos.
Movimentos
insoffreaveis por excitação de órgãos da actividade.
|
|
Emoções e paixões.
8.
Os sentimentos.
9.
As tendências e inclinações.
10. Actividade
intellectual. Os fatos representativos. As sensações e os fados dos sentidos.
11. A
percepção e as imagens. A percepção externa e o mundo exterior.
12. A
percepção interna e a idéia do eu.
13. A memória
e a associação das idéias.
14. A
imaginação reproductiva.
15. Formação
dos conceitos.
16. O juízo.
17. O
raciocínio e os princípios directores do conhecimento.
18. A
linguagem.
19. A actividade
credora e o papel da imaginação.
20. Os factos
da vida activa. Os reflexos.
21. Instinctos:
natureza e importância. Instincto e habito.
22. As
volições. Analyse do acto voluntário.
23. O
automatismo psychologico.
24. Psychologia
comparada.
|
LOGICA
Considerações
fundamentaes sobre a Lógica. Sua definição. Vicio de sua construcção,
separando-a, quer de sua fonte social __ o sentimento, quer de seu
destino pratico __ a actividade. Imperfeições fundamentaes que têem
caracterizado sua concepção como sciencia e até como arte. Inseparabilidade do methodo e da doutrina.
Resumo da Lógica positiva: Induzir para deduzir, a fim de construir.
Apreciação
geral de cada um dos três elementos lógicos: sentimento, imagem e signal, ou
consistência, clareza e precisão. Connexidade destes três elementos.
Preponderância de cada um delles occasionando um systema especial
característico. Lógica dos sentimentos ou constructiva; das imagens ou
inductiva; dos signaes ou deductiva. Acordo com cada um destes systemas com
cada uma das três phases da evolução preliminar da espécie humana:
fetichismo, polytheismo e monotheismo.
Concepção positiva
do methodo quer na sciencia, quer na arte; sua analogia com a machina no
diminio industrial, visto que, sem nada crear, ambas têem por fim augmentar
nosso poder intellectual e material. Concepção de um só methodo, como de uma
só sciencia, tornando-se inductivo nas investigações do mundo, deductivo nas
pesquisas do numero, da extensão e do movimento, e constructivo ou subjectivo
na Moral.
Da evolução da
Lógica.Situação social do
|
|
LOGICA
25. Objecto. Importância. Sub-divisões.Relações
com a psychologia.
26. Idéia e
termo. Comprehensão e extensão.
27. Juízo e
proposição. Quantificação do predicado.
28. Raciocínio
e argumento. Inducção e deducção.
29. Opposição
e conversão.
30. Theoria
do syllogismo.
31. A
inducção e a hypothese.
32. Sciencia
e methodo. Classificação das sciencias.
33. Methodo
em mathematica.
34. Methodo
em sciencias physiconaturaes.
35. Mehtodo
em psychologicas e sociaes.
36. Verdade e
erro. Causas de erro. Sophismas.
37. Critério
da verdade. Experiência. Evidencia.
|
meio grego quando Aristóteles creou seu Organum. Sophistica e dialectica entre
os gregos. Apreciação Organum, de
Aristóteles.
Das Categorias ou tratado das cinco
universaes e das categorias.
Da Hermeneia ou interpretação (theoria da
proposição).
Das analyticas ou tratado de syllogismo.
Dos Tópicos ou fontes prováveis do
raciocínio.
Dos Sophismas ou dos maus raciocínios.
Modificações
feitas no Organum, de Aristóteles,
durante a edade média e os tempos modernos.
Confronto do Organum, de Aristóteles, com o Novum Organum, de Bacon, e o Discurso sobre o Methodo, de
Descartes.
LOGICA
DAS IMAGENS OU INDUCTIVA
(6 lições)
Exame summario da
inducção theorica. Da inducçã espontânea e da indução systematica. Distincção
entre mundo intelligivel e mundo sensível, segundo Empédocles, ou entre o
objectivo e subjectivo, conforme Kant. Divisão do mundo intelligviel em duas
partes: uma formada de propriedades abstractas e outra de relações abstractas
(leis naturaes). Importância da inducção espontânea para a instituição das
propriedades abstractas na primeira infância. Uso da inducção na primeira
infância. Uso da inducção systematica para a apprehensão posterior das
relações abstractas.
|
|
|
Fundamentos
subjectivos em que se baseia a inducção systematica:
1.
Leis da simplicidade das hypotheses, da
immutabilidade das relações abstractas e das modificações da ordem universal
sem alteração do arranjo, que asseguram a simplicidade e Constancia das
relações.
2.
Leis da subordinação do subjectivo ao objectivo e
leis das imagens, que definem o estado normal da razão, pois que o outro modo
fluctuaria entre o excesso de subjectividade e a demasiada objectividade.
3.
Lei da evolução intellectual, que harmonize este
grau de subjectividade com as fluctuações inherentes às diversas phases da
evolução mental, visto que nos estados theologico e metaphysico há excesso de
subjectividade e no fetichico prevalece a objectividade.
Fundamentos
objecitvos: leis da persistência, da coexistência, da reacção e da
mutualidade, que precisam a estabilidade da ordem externa.
Da inducção em
astronomia. Recurso objectivo para
tornar possivel a inducção nessa ordem de phenomenos __ a observação. Apreciação dos instrumentos de observação
astronômica, horários e angulares. Modificações que soffrem as observações em
conseqüência do invólucro fluido em que se acha o observador e de seu
deslocamento do centro dos systemas. Dos erros em astronomia. Meios práticos
e
|
|
|
theoricos de attenua-los. Importância da theoria dos erros
em astronomia. Das hypotheses scientificas em astronomia, Hypothese
geocêntrica, seu valor na astronomia preliminar; necessidade de sua
substituição nas questões mais complicadas.
Da inducção em
physica e chimica. Meios objectivos necessários para realizar a inducção em
physica, a observação e a
experimentação. Artifícios empregados em chímica __ a analyse e a synthese. Recursos
subjectivos que resultam da analyse e da synthese que facilitam a dedução e a propriar inducção __ nomenclatura e notação. Inducções
geraes que devem ser consideradas como resultados lógicos do estudo da physca
e da chimica: 1ª. A indestructibilidade da matéria. 2ª. A actividade da
matéria sendo que essa actividade é physica e chimica. 3ª. Identidade entre a
materia viva e a não viva, ou, em outros termos, toda matéria é
essencialmente mineral.
Da inducção em
biologia. Meio de induzir em biologia __ methodo
de comparação, Duplo trabalho __ inductivo e deductivo __ que exige a
classificação. A inducção em
sociologia por meio da filiação
histórica. Inducções geraes que promanam do conjuncto da biologia, como
resultados lógicos desse estudo: 1ª.
Vida só existe onde há estructura. 2ª. A idéa de organização no estudo abstracto da vida comparado com a de systema na apreciação também abstracta
do movimento. 3ª. Não há funcção sem órgão.
|
|
|
LOGICA
DOS SIGNAES OU DEDUCTIVA
(5 Lições)
Apreciação geral
da lógica dos signaes ou deductiva. O calculo como o mais poderoso
instrumento de deducção. Imperfeição inherente a semelhante instrumento.
Associação do calculo á geometria, segundo a concepção cartesiana ou
combinação dos signaes com as imagens. Resultado desta combinação, dando
maior clareza ao calculo e maior generalização e precisão á geometria.
Artifícios lógicos empregados pelo calculo, tanto dos valores como das
relações.
Artifícios deductivos usados pelo calculo
transcendente. Aptidão natural deste calculo para dar ás suas equações mais
simplicidade e principalmente mais generalidade que o calculo ordinário. Do
calculo das variações e sua comparável superioridade deductiva.
Principaes
artifícios deductivos usados em Geometria e Mecânica. Reacção lógica do
estudo destas partes da mathematica.
LOGICA
DOS SENTIMENTOS OU CONSTRUCTIVA
(2
Lições)
Apreciação
fundamental da Lógica dos sentimentos ou constructiva. Importância deste
systema lógico, em vista da preponderância do gênio de conjuncto sobre o
espírito de pormenor. Imperfeições fundamentaes desta lógica: exercício muito
pouco facultativo e elementos
também
|
|
|
muito pouco precisos. Applicação deste systema ao domínio
da Moral e da Esthetica.
Causas primarias
e finaes. Principio da razão sufficiente. Causas que entram no domínio
positivo. Concepção positiva do direito. Relação entre o direito e o dever.
Das relações
entre o abstracto e o concreto. Verdade e erro, certeza e precisão. Relações
entre a inducção e a dedução. Verificação inductiva e demonstração deductiva.
Proposições que podem ser alcançadas tanto por inducção como por deducção.
Razão por que não se podem demonstrar nem o axioma nem o postulado
mathematico. Da definição. Coisas que não podem ser definidas e razão da
impossibilidade.
Da sciencia e sua
distincção, quer dos materiaes objectivos, que lhe servem de base, quer de
suas applicações theoricas e praticas. Determinação do numero preciso de
sciencias ou de gênero de relações constantes entre o absctracto e o
concreto. Classificação das sciências.
|
|
ESTHETICA
38. Objecto.
Diversos conceitos. A esthetica de Kant.
39. Origem da
arte. As arte e o meio social.
40. Realismo
e idealismo. Exagerações da escola.
41. A emoção
e o estylo. O problema do gênio.
42. Fórmas
pathologicas da emoção esthetica. Insensibilidade esthetica.
|
|
|
43. Critica
das obras da Arte. A arte e a Moral. Theoria da Arte pela Arte.
44. O Bello e
o Útil. A esthetica de Guyau.
ETHICA
45. Condições
psychologicas da consciência moral.
46. O Dever e
o Bem. A responsabilidade.
47. Egoísmo,
Altruísmo e o ego-altruismo.
48. A moral independnete e a moral sem obrigação
nem sancção.
49. Moral pessoal e a construcção da própria
personalidade.
50. Moral doméstica. Individuo e família.
51. Moral cívica. Individuo e Estado.
52. O Direito e a Moral. Justiça e Caridade.
53. Evolução das idéas Moraes. Civilização e
progresso.
54. Sociologia,
Moral e Religião. Aspectos Moraes do problema social.
|